segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Rugido de insubordinação

Overload.

Overload de informação, overload de apontamentos, de referências bibliográficas, cinematográficas e culturais. Overload de comboios à hora de ponta, overload de portas e carruagens, pessoas e imagens publicitárias. Abundância de pequenas coisas à là Amèlie, centrifugadas no overload de aceleração do quotidiano e da aceleração da caneta no papel. Tudo é em grande quantidade, para o bem e para o mal.

Excepto o tempo. Lack de tempo.

Adapto-me instantaneamente a este modo de estar. Não quero abdicar da observação e da contemplação, por isso observo e absorvo rápido. Dispo a linguagem de acessórios. Assim mesmo. Tudo são frases declarativas e raciocínios lógicos a processar. Dados binários. Agora estou dentro do Metro, agora estou fora. Agora posso escrever, agora não. Decisões rápidas e de precisão. Unidade-minuto. Locuções automáticas nos altifalantes. Procuro um espaço para mim e muitas vezes não consigo encontrar.

A única coisa que me impede de deprimir nesta vida mecânica é a arte, o desejo de partilha, experimentação e conhecimento que motivou este caos. Talvez tenha aceite viver como peça de maquinaria, mas logo debaixo da minha pele ferve o meu inconformismo e espírito crítico, a minha alma selvagem, a força que é ESTAR SEGURO DE QUE TENHO MOTIVOS PARA VIVER!

Sim, talvez tenha aceite abdicar das curvas do freestyle para viver confinado às linhas rectas dos cânones, que são os carris desta máquina limitadora. Mas enquanto deslizo por estes carris, atravesso galerias de arte e mundos novos, inspiro, pergunto e debato, sofro e venço, liberto-me e voo e sinto-me a crescer! Já não cresço para acompanhar a idade, cresço em direcção a uma pessoa melhor.

E esses carris que me querem prender, por azar deles, passam mesmo pelo sítio onde sou completamente livre e onde o tempo não corre mas eu corro, não porque preciso, mas porque quero. Estúpidos! Os carris é que estão presos ao chão, não sou eu!

Cidade, tu não me prendes. Eu é que usufruo do teu bem, alheio ao teu mal.

1 comentário:

  1. Tem piada ver pessoas jovens a escrever em português. Relembro-me sempre (não será relembrar um repetição? "Lembrar" já é reaver uma memória perdida, no subconsciente), da nossa língua como algo que se preze. Tem uma arte que outras não podem aspirar a ter. Em relação a escritores novos.. se não dermos valor à nossa geração e ao que dela provem continuaremos agarrados aquilo que não nos marcou, mas simplesmente aquilo no qual nos identificamos. No final de contas só sobram aqueles que resistem, espero que tenhas fôlego para isso. Boa escrita

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