quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Ganhei um prémio literário!

Sempre soube que gostava de escrever, mas por esta não esperava. As minhas deambulações ocasionais pelo mundo das palavras não resultaram em mais do que um pequeno Belogue, que julgava não ter grande interesse.

Tinha já começado a escrever um conto infantil, floresta espinhosa por onde nunca me tinha aventurado, quando alguém muito teimoso decidiu insistir comigo diariamente para que o terminasse e enviasse para o concurso do Prémio Literário Correntes D'Escritas / Papelaria Locus.

Muitas semanas depois, recebo um telefonema de um número desconhecido, dizendo com toda a inocência e simplicidade "Era só para informá-lo que ganhou!". Saltitei de alegria no banco do carro.

Assim sendo, no último sábado, 25 de Fevereiro, fui à Póvoa de Varzim, tendo oportunidade de dar uma curta espreitadela na majestade da Cidade Invicta, sólida como rocha, debruçada sobre o mar sem medo de cair; e de apreciar uma agradável viagem no Metro mais evoluído do país.

Fui muito bem recebido, senti-me mesmo bem!

Agradecer, explicar porque acho difícil escrever para crianças, e alertar toda a gente que o programa da disciplina de Português nos dias de hoje despreza completamente a escrita. Mission accomplished!

Esta azáfama de parabéns e elogios teve as consequências positivas de me incentivar ainda mais a escrever (esperem um aumento da massa de posts no Belogue), e de me relembrar que também eu Quero Ser Escritor! No entanto, teve a consequência negativa de me deixar estupidamente vaidoso por alguns dias. *dou um estalo em mim próprio*

Entretanto, a minha arqui-inimiga (cujo nome não deve ser pronunciado, pelo que a vou designar pela "palavra P") não se deixa vencer, e volta a investir com os seus cruéis truques psicológicos, causando-me um incrível desinteresse pelos regulamentos de concursos literários, que, por magia, começaram a chover à frente dos meus olhos.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

À conversa com um romeno

À noite, esperando por um autocarro que nunca antes apanhara, vindo a uma hora longínqua, um romeno meteu conversa comigo. "Vais apanhar o autocarro para o Montijo?"

Jovem adulto, magro, de pele muito avermelhada, quase como queimada pelo sol, e de uma beleza muito peculiar e madura, inteirou-me mais tarde que tinha 23 anos.

Poucos minutos foram precisos depois dessa pergunta para eu desligar o mp3, e para ele se sentir completamente à vontade para conversar comigo sem rodeios. E falou, falou, falou... Resumiu-me toda a sua vida, como um idoso solitário que finalmente encontra uma alma disponível para o ouvir. E era uma história realmente interessante. Mudei-me para o banco imediatamente ao lado do dele.

Falou-me do trabalho duro que levava na construção civil, das namoradas e das traições, da sua confiança, que não podia dar a ninguém, e de como eram injustas as ideias que as pessoas formulavam sobre ele sem o conhecerem. Mostrou-me uma fotografia de infância. Deu-me um conselho "como se fosse para um irmão". Exibiu, com a deliciosa inocência de uma criança, a quantidade de brigas em que já estivera envolvido, todas devidas a mais injustiças, e o facto de nunca se ter acobardado. Magrinho, mas forte, dizia. Deixou claro que só queria ser aceite, e que as pessoas não olhassem para ele de forma indiscreta na rua.

Ele não me conheceu. Eu conheci-o inteiramente. Quando olhei para o painel de partidas do terminal, o meu autocarro já lá não aparecia. Mas valeu a pena tê-lo perdido. É uma pessoa com que eu gostava de poder falar mais vezes.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Cumprimentos: O Olhar

O nosso cumprimento é um olhar.

Não há necessidade de nada dizer, de nada tocar, de nenhum músculo mover. Longas conversações se dão naquela metade de segundo em que os nossos olhos se encontram.

Um olhar que antes já fora um desespero inquietante e irracional por nos conhecermos melhor, por desvendarmos a personagem misteriosa que se oculta por detrás daquela pele. Um olhar que se mantém intenso como da primeira vez, mas que agora reflecte uma serena e consciente confirmação de conhecer o mais íntimo da mente do outro, e que segura com firmeza a estranha e perigosa confiança que automaticamente se ergueu entre nós. "Sei quem és."

E dia após dia nada mais se passa. Apenas esta subtil telepatia silenciosa, de vez em quando salpicada de meia-dúzia de palavras inúteis.

Não há mais nada para acontecer. Nada mais pode acontecer.