sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Resiliência...

Estou exausto e não fiz nada. Decido ir almoçar à Cidade Universitária, para ver se me anima a comida deliciosa. Gostava de ter companhia, mas na verdade não sei bem de quem.

Caminho para a saída e encontro a professora Sara, saída de uma sala. Vai na mesma direcção. Pergunta-me "como é que isso vai", sorridente, e caminhamos lado a lado. Desabafo que vai difícil, que durmo pouco. Ela não hesita em partilhar que também é assim, e a conversa prende-nos. Tenta adiantar trabalho à noite e depois custa-lhe a acordar, anda morta de cansaço. Eu sei. Toda a turma conhecia a sua dependência de café, mais do que é comum ver-se no corredor de Design. Digo-lhe que todas as manhãs ponho três despertadores e mesmo assim hoje não ouvi nenhum e não consegui acordar a tempo. Ela põe dois, um deles é daqueles tipo "bomba". Brinco que se os nossos professores têm os mesmos problemas que nós, onde pode estar a nossa esperança? Ela ri-se, e pede levianamente que não vá espalhar esta confissão por aí. Despedimo-nos a sorrir quando os nossos percursos se bifurcam.

A descer a Calçada Nova de São Francisco percebo um pouco melhor o meu modo de funcionar. Ao longo de cada dia, uma variedade de coisas boas e más vão surgindo e alternando. Eu acaricio as coisas boas, como a conversa com a professora Sara, ou o sorriso que vi na cara de uma mulher na Rua Ivens, e é nessas coisas que mais penso. As coisas más, tento não pensar muito. Há quem chame a isto resiliência. Não sei.

Na estação de Metro de Marquês de Pombal, percorro o cais verde-pálido. Gosto de caminhar na faixa amarela, e olho para cima. As luzes fluorescentes em tubo formam uma linha ao longo da plataforma. Deixo que vão saíndo do meu campo de visão por cima, uma de cada vez, como créditos a passar no final de um filme. Acho que só me entristece porque foi tão de repente. Sim, eu sei que estás aí para me abraçar e mimar sempre que eu precisar. Mas de um momento para o outro tiraste-me a possibilidade de fazer uma das coisas que mais gosto. E não poderei fazê-la com outra pessoa, porque tu és único. Essa é a parte que custa.

Ao meu lado na carruagem, duas turistas brasileiras falam com dúvida de estações e percursos. Pergunto-lhes se precisam de ajuda, agradecem que não. Mas a dúvida delas reaparece e acabo por me levantar, para tocar com o dedo na estação do Rossio, no diagrama da rede. Explico-lhes que podem mudar em Baixa-Chiado, mas que não vale a pena, porque se saírem em Restauradores estão logo no Rossio. Elas já sabiam. Vão apanhar o 28 para passear pela cidade, mas já conhecem grande parte dela. Saem nos Restauradores, agradecem mais uma vez e desejo-lhes bom passeio. Eu saio em Baixa-Chiado e deixo que sejam as escadas rolantes a levar-me até lá a cima, como é tão raro. Já na Faculdade, ponho a hipótese de utilizar pela primeira vez o elevador para ir até ao cacifo...

sábado, 18 de outubro de 2014

Lisboa II (Outro olhar, outro descrever)

Escrito pouco antes de começar o 1º ano na Universidade.

É lindo como tudo se renova constantemente. É incrível como o ser humano consegue condenar o amor e exaltar a violência e a guerra. É assustadora a facilidade com que estala uma guerra.

Imagens grandes sucedem-se à nossa frente tão rápido... Cinco pessoas esperam num banco pelo comboio. Na linha oposta o comboio acelera.

Emerjo do subterrâneo e sinto-me a ascender, não para o sol, mas para a beleza do mundo terrestre.

Tanta gente no bocado de terra e cimento que consigo avistar com os meus olhos longos. Tantas me podem fazer mal — com uma simples lâmina morro — tantas outras serão tão fascinantes, algumas desejosas de intriga e vingança, outras desejosas de dar e iluminar, criar a paz. Umas vivas, outras apenas a sobreviver — por medo e não por necessidade, porque a miséria nunca impediu ninguém de viver a sério. Viver é ver em cada fábrica suja, em cada molho de chaves, em cada linha de tabela cheia de números sem lógica, alguma beleza. E embelezar o mundo, torná-lo melhor.

A calçada larga que tenho à frente é um universo maior que Lisboa. Sobre as pedras calcárias procuro ver o bom da humanidade em cada rosto. É assim que eu sou e gosto de ser. Aprecio o equilíbrio e o sol. Esta pode ser a minha última semana de sossego. Mas estou pronto.

Conflitos

O teatro vive de conflitos porque também a vida é feita de conflitos. Se não houver conflitos, qual é o interesse da vida?

Há uns tempos estava a olhar para o topo do Belogue (que sempre foi de cariz muito pessoal) e a aperceber-me como o slogan já não faz o mesmo sentido que fazia quando o pus ali. É uma guerra há muito encerrada e resolvida! A preocupação que tem ocupado a minha mente, já desde há um ano para cá, mas principalmente nos últimos meses, resumi-a da seguinte maneira:

Conflitos com o tempo e o espaço

Para a minha história fica então o slogan anterior:

Conflitos entre o lado direito e o lado esquerdo do cérebro

Creio que se a minha vida fosse transformada em livro, estes podiam muito bem ser os títulos dos capítulos. São uma espécie de marcos na estrada, e tenho imensa curiosidade em saber qual será o próximo.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Afinal eu até gosto de velocidade

Afinal eu até gosto de velocidade.

Quando não tenho uma mochila pesada às costas, um prazo a ultrapassar-me, ou a respiração ofegante, eu adoro correr e sentir o vento na cara.
Eu e o tempo e corremos lado a lado. Acompanho-o. Correr ao lado de alguém é mágico. Sintonizados. Temos o poder. Temos o mundo mais perto. Aos nossos pés. Correr ao lado do tempo é estar ligado ao mundo e à natureza.
A cidade é uma corrida. Correr é fluir, correr é vida. A vida corre. A vida é rápida, mas não é curta.
A vertigem faz-nos sentir vivos.
Eu aproveito cada segundo da vida. Há coisas que se aproveitam rápido.

Acima de tudo, eu gosto de ter o poder de controlar a minha velocidade.

Será que este nó está desfeito de vez...?