quarta-feira, 22 de abril de 2015

"Amo-te tempo"

Talvez não houvesse frase mais antípoda ao modo de vida que levo, que levamos. É sempre o tempo o culpado, o impedimento, o ditador. Durante os intervalos falamos sobre isso, eu e colegas, e de pouco mais.

Imaginem como me fascinei ao deparar-me com o pensamento exactamente contrário. De facto, o optimismo é uma coisa poderosa. Eu também quero amar o tempo. Eu um dia hei-de amar o tempo... Por agora estamos em reconciliação. Já estivemos bem pior.

Trata-se de uma carta do artista contemporâneo Felix Gonzalez-Torres para o seu amante em 1988. Tem tudo a ver com a sua obra "Untitled" (Perfect Lovers), que é uma metáfora do amor usando... relógios. Surpreendente, não é? Sobre esta peça pode ler-se mais aqui.

Esta obra, por indicação do artista, só pode ser apresentada sobre uma parede azul-claro. É tão fácil imaginar a brancura de um hospital... o silêncio... a espera... mas uma espera sincronizada, e de certa forma, em paz. É trágico e belo ao mesmo tempo.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

O Fim da História

Tive uma infância de espera, deslizada pelo virtual, solitária. Esperei por nascer para o mundo, e só há três ou quatro anos nasci e vi o mundo pela primeira vez. Se antes era um satélite desmotivado à volta da Terra, desejo agora ser uma árvore com raízes em todo o planeta. Quero estar ligado a um pouco de tudo, enlear-me com a Terra e no fim voltar a ser Terra. É isso que quero.

Mas tive o infortúnio de chegar a este mundo pouco antes dele se transformar em ruído, e enquanto se desintegra eu desespero por beber cada gota de tudo o que ainda não foi nivelado. Interessam-me todas as coisas. Anseio por todas as coisas.

Se alguma vez tu e eu partilhámos um momento espontâneo e verdadeiro, se decidimos preencher um segmento do nosso tempo com esta actividade nostálgica de termos corpo e massa, (movimento mais que pensamento), se pelos mais breves momentos tentámos adivinhar os pensamentos que nos habitavam, então és importante para mim. Estou grato por teres partilhado comigo o prazer da tua fisicalidade, por teres existido comigo.