Sou uma pessoa podre de sortuda. Tenho tanta sorte que não cabe num indivíduo, chega a ser injusto!
Sei que nunca ganharei a lotaria, e que perco a maior parte dos jogos, e é essa a definição que a generalidade das pessoas tem da sorte. Eu tive uma sorte diferente, aquela que me permite humildemente considerar-me uma boa pessoa.
A sorte de ter nascido de pais fantásticos, que me souberam educar sem me baterem, que me tornaram uma pessoa cívica e consciente.
A sorte de cedo ter aprendido a escrever sozinho, e de sempre ter tido facilidade na escola.
A sorte de ter conseguido vencer o bullying, e de me ter blindado a ele (à prova de bala!).
A sorte de ter conhecido pessoas fantásticas. Bondosas, altruístas, sorridentes, inteligentes... Pessoas que considero meus ídolos incondicionalmente (e que se lixem as "Ignaras Vedetas" da televisão, que não preciso delas!).
A sorte de os meus pais e (quase) toda a minha família terem aceite muito bem a minha orientação sexual, e de viver numa zona muito rural onde, por obra e graça de qualquer coisa, não vi ainda homofobia.
E isto me chega para ser mais-que-feliz.
Apesar disso, divago muitas vezes num dilema que me frustra. Não é injusto, algumas pessoas terem mais sorte que as outras? Não é injusto uns terem a vida mais facilitada? Todos devíamos nascer com a mesma sorte, e tudo devia depender dos nossos esforços e dedicação apenas. Devia haver justiça. E se calhar devíamos ser nós a criá-la (ideia muito perigosa!)... Mas isto tudo não comprometeria a preciosa diversidade humana que tanto venero?
Fico-me por ajudar os outros. Sinto que é meu dever retribuir ao mundo, ou a não-sei-quem, a sorte que me deu. E aposto que a Margarida Fonseca Santos também partilha deste sentimento, o que me reconforta. Preciso de ajudar. É esta a forma que tenho de equilibrar o mundo como posso. Afinal, sempre pode ser o ser humano a criar essa tal justiça... :-)
(E assim começo a considerar a possibilidade de ser agnóstico...)