terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Parlamento dos Jovens - Eleições à tuga

Nas escolas portuguesas tem-se o hábito de tornar as eleições, quer para a Associação de Estudantes, quer para o Parlamento dos Jovens, em autênticos arraiais. Exceptuando as eleições de delegados de turma, claro, porque esse é o único cargo disponível para os alunos em que se tem efectivamente que fazer alguma coisa. Começa a balbúrdia: mensagens de apelo ao voto em cada lista, mas totalmente vazias e desprovidas de argumentos (e até de criatividade - um simples "Vota B!" é mais que bom!) proliferam em camisolas impressas ou rabiscadas, e em panfletos e autocolantes reles. Festas, ofertas, música e barulho tentam conseguir a atenção do maior número de alunos. No dia dos sufrágios, apenas 40% dos eleitores se dão ao trabalho de esperar um minuto na fila para exercer o seu direito de voto. Típico português! Porquê criticar os adultos, se os hábitos começam logo nos jovens?

Hoje analisei os espaços publicitários de cada lista candidata ao Parlamento dos Jovens da minha escola, e fiquei deveras desiludido com a palhaçada e a falta de conteúdo que povoavam os placards. (A má ortografia também me preocupou, mas isso hoje em dia é altamente discutível...)

O Parlamento dos Jovens deste ano propõe, através das redes sociais, combater a discriminação (para os alunos do Básico) e fomentar a participação e a cidadania (para o Secundário).

No entanto, em ambos os níveis de ensino, a palavra que impera é "discriminação". E assunto não passa desta porta inicial - não vi uma única definição da palavra, nem sequer uma breve pesquisa sobre os grupos da sociedade que são hoje alvo de discriminação.

As cartolinas coloridas focam-se apenas em dizer que a discriminação é muito má e muito feia, e que temos que acabar com ela, e é por isso que deves votar em nós e não nos outros! Cada vez está mais na moda dizer-se que não se é racista. Os racistas são estúpidos! Uma hipocrisia pegada. Até eu sou racista, às vezes, mesmo tentando contrariar e extinguir os preconceitos que tenho.

O único material publicitário em que encontrei algo mais claro foi o da Lista A do Básico - uma carolina que, de forma [relativamente] bem persuasiva, nos lembrava que o presidente da maior potência mundial é negro, que a mulher mais rica do mundo é negra, que o homem mais rápido do mundo é negro, e por aí. E que não devemos odiar as pessoas pela cor da pele. Pessoal, estamos em que século?! Não quero ser desmancha-prazeres, mas se querem lutar contra o Apartheid, já vão muito atrasados!

Nada podia explicar melhor o meu ponto de vista do que este genial sketch do Estado de Graça:

Falta perguntar - quantos destes aspirantes a políticos tugas não têm aversão aos brasileiros, ou aos ucranianos, ou aos russos, ou aos romenos, ou até aos espanhóis (em casos mais extremos)? Quantos não chamaram "mongoloi*e" àquele colega com uma deficiência mental? Quantos não gozaram com aquele colega obeso, e com o outro colega, que era um rapaz mas lhes parecia uma rapariga? Quantos não se afastaram de um cigano na rua? São imensos os grupos que sofrem de discriminação hoje em dia, mas desses não lhes convém falar.

Repare-se ainda no título de uma das campanhas - "Contra a Discriminação nas Redes Sociais". Toda a gente sabe que é importantíssimo combater a discriminação dentro das redes sociais, porque fora delas já não faz mal, certo?
Toda esta falsa cidadania e propaganda fácil, a ausência de argumentos e de reflexão sobre os assuntos propostos e a banalidade das ideias conseguidas levam-me a pensar que os meninos só querem é poder fazer barulho no átrio, e experimentar sentar o rabinho nos assentos da Assembleia da República.

3 comentários:

  1. Adorei o texto, parabéns Tomás! Foste irreverente nas palavras e directo nos pensamentos e eu não posso deixar de concordar com a tua opinião. Lamento ter lido uma crítica negativa relativamente à campanha da lista na qual estou inserida, tanto quanto estou em desacordo quando afirmas que o pensamento geral é que uns autocolantes são o bastante. Falando abertamente e fomentando uma discussão saudável, eu vejo uma campanha eleitoral como exactamente chamar a atenção dos eleitores e, posteriormente, fazê-los entender e apoiar as nossas ideias. É dessa forma que temos tentado agir - sendo que este foi apenas o primeiro dia de campanha - e, sempre com entusiasmo, não levamos este projecto como pretexto para brincadeira mas sim como uma oportunidade de nos exprimirmos. De qualquer forma a tua opinião serviu como um alerta de que talvez a mensagem não esteja a ser transmitida como tencionávamos que fosse e por tudo isso agradeço-te em nome de todos os elementos da lista. (Mais gratificante que isso é o facto de ter a oportunidade de ler uma opinião, responder e, certamente, ouvir resposta sobre este tema num blog; e melhor rede social que isto?)

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    1. Uma coisa que me surpreendeu imenso foi reparar que estavas envolvida numa das listas. O teu comentário explicou tudo!
      Acabaram de me informar que a votação de hoje é só para o Básico, e que para o Secundário é só na segunda-feira. Óptimo, então! Têm o tempo necessário para dar a volta a isto, e mostrar uma atitude diferente.
      Acho que o mais importante é desviarem-se da conversa de palha (que faz os manifestos de todas as listas parecerem iguais), e responderem na vossa campanha a esta questão (que já coloquei aos candidatos do Básico, mas que não me conseguiram responder): Na vossa opinião, quais são os grupos mais discriminados nos dias de hoje? Pensamento abrangente, por favor! Investiguem um pouco. Contactem com associações que defendam esses grupos. ;)
      Fico feliz por ter contribuído, e por haver, nestas eleições, aspirantes a políticos que não são tugas. :P
      As listas ainda me parecem muito iguais, mas a minha opinião já se começa a formar... :)

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    2. (Resposta tardia, peço desculpa.) Não o usando como desculpa, nós somos novos nestas andanças (novinhos em folha) e temos vindo a tentar equilibrar o "divertimento" e o "chamar a atenção" com a "seriedade" que um projecto como este deve ser encarado. E tem sido realmente uma semana de muito trabalho e em que, excluindo os típicos métodos de - por exemplo - pôr música de má qualidade aos berros, temos tentado recorrer a maneiras de integrar a comunidade escolar usando na nossa campanha as redes sociais e criando também um ambiente enérgico e de participação activa que chame a atenção dos alunos para o Parlamento dos Jovens. Tenho conhecimento de que, no ano passado, nem metade das turmas de secundário estavam informadas sobre o que consistia o projecto ou o porquê de estarem a haver segundas eleições já que as eleições da Associação de Estudantes já se tinham realizado. E acredito, modestia à parte, que a nossa campanha contribuiu bastante na criação de visibilidade do projecto dentro da escola e dos alunos não-envolvidos (e muitas vezes sem qualquer interesse em tornarem-se mais participativos).
      Em relação à tua nota sobre a discriminação, esse tema não tem de todo a ver com o que é atribuído às listas de secundário. Estas devem centrar-se na vertente educativa e de cidadania que as redes sociais podem trazer nesta nova sociedade tecnológica dos países desenvolvidos.
      Mais uma vez, obrigada pela partilha! E eu fico contente por ainda existirem alunos que, ainda que não directamente envolvidos em listas, se dignam a comentar, criticar e estar atentos e informados em relação a projectos como este.
      (E com tudo isto, fiquei a conhecer o teu "belogue". É a mais valia #2 :)

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