terça-feira, 11 de outubro de 2011

Injusta sorte!

Sou uma pessoa podre de sortuda. Tenho tanta sorte que não cabe num indivíduo, chega a ser injusto!

Sei que nunca ganharei a lotaria, e que perco a maior parte dos jogos, e é essa a definição que a generalidade das pessoas tem da sorte. Eu tive uma sorte diferente, aquela que me permite humildemente considerar-me uma boa pessoa.

A sorte de ter nascido de pais fantásticos, que me souberam educar sem me baterem, que me tornaram uma pessoa cívica e consciente.

A sorte de cedo ter aprendido a escrever sozinho, e de sempre ter tido facilidade na escola.

A sorte de ter conseguido vencer o bullying, e de me ter blindado a ele (à prova de bala!).

A sorte de ter conhecido pessoas fantásticas. Bondosas, altruístas, sorridentes, inteligentes... Pessoas que considero meus ídolos incondicionalmente (e que se lixem as  "Ignaras Vedetas" da televisão, que não preciso delas!).

A sorte de os meus pais e (quase) toda a minha família terem aceite muito bem a minha orientação sexual, e de viver numa zona muito rural onde, por obra e graça de qualquer coisa, não vi ainda homofobia.

E isto me chega para ser mais-que-feliz.

Apesar disso, divago muitas vezes num dilema que me frustra. Não é injusto, algumas pessoas terem mais sorte que as outras? Não é injusto uns terem a vida mais facilitada? Todos devíamos nascer com a mesma sorte, e tudo devia depender dos nossos esforços e dedicação apenas. Devia haver justiça. E se calhar devíamos ser nós a criá-la (ideia muito perigosa!)... Mas isto tudo não comprometeria a preciosa diversidade humana que tanto venero?

Fico-me por ajudar os outros. Sinto que é meu dever retribuir ao mundo, ou a não-sei-quem, a sorte que me deu. E aposto que a Margarida Fonseca Santos também partilha deste sentimento, o que me reconforta. Preciso de ajudar. É esta a forma que tenho de equilibrar o mundo como posso. Afinal, sempre pode ser o ser humano a criar essa tal justiça... :-)


(E assim começo a considerar a possibilidade de ser agnóstico...)

5 comentários:

  1. Antes de ler o final do teu post, já estava a dizer a mim mesma - eu sinto o mesmo! Será justo eu ter tanta sorte e saber que há quem não a tenha? Mas, lá está - conheces-me muito bem!
    Eu também me sinto uma privilegiada: pelos pais que tive, pela irmã que tenho, pela família que construí com o meu marido e filhos, com poder fazer todos os dias aquilo que é a minha paixão (escrever). Mas também por estar a ser capaz de não me amargurar com o que não correu bem, por ser capaz de construir sobre os desaires as ajudas para outros (para além de mim), por fazer da vida uma cruzada em que me dou, escrevendo, falando...
    Deixo-te um enorme beijo, relembrando como a nossa amizade mudou as nossas vidas para melhor, e dizendo-te que és de facto especial, único

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  2. Pois é, Tomás e Margarida,
    podem dizer que têm sorte! Não que eu não o possa dizer também, afinal, 'conheço-vos' (ao vivo não, mas espero que esteja para breve!) e assim já me considero um sortudo...!
    Mas sinto que há dias na vida em que a 'sorte' - se assim lhe quiserem chamar - é sugada completamente e levada por instantes que nos fazem sofrer bastante! Ainda hoje pude constatar isso! Mas, depois, acabamos por recuperá-la muito facilmente! O que me impressiona bastante!
    Eu tenho, sempre tive e sempre terei este fascínio pela Vida e por tudo o que nela flui. Acho que nada acontece por acaso, e esse factor faz-me idolatrar ainda mais 'O Reino de Petzet'! Não sei se têm este mesmo fascínio e curiosidade que eu... Pura e simplesmente, acho que não existem 'coincidências', tudo nesta Vida acontece por uma razão especial, mesmo que só o percebamos mais tarde...
    Mas se querem saber, nunca pensei nisso (''Não é injusto uns terem a vida mais facilitada?''), por isso acho que a minha reflexão sobre o assunto, agora, não esteja muito correcta. Mas sim, acho que todos deviam ter o poder de lutar pela sua 'sorte'.
    Abraço aos dois! ;D

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  3. Tomás,
    Agora que descobriste uma coisa tão importante, deixa-me dar-te um conselho: tenta lembrar-te disso todos os dias. Ajuda muito, principalmente quando alguma coisa nos corre menos bem...
    Não é verdade que tudo o que te aconteceu de bom tenha sido apenas fruto de factores que não controlas: tenho a certeza de que fizeste as tuas próprias oportunidades. E, por exemplo, os teus amigos - a quem dás tanto valor - também acham que têm muita sorte em te conhecer. :)
    Grande abraço.
    Pedro

    PS: agnóstico?!?

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  4. Pedrocas, a sorte a que me refiro é mais forte... Não é a sorte do dia-a-dia, das coisas correrem bem ou não. Não é a sorte que às vezes existe, e outras vezes é sugada, deixando o sofrimento. É a sorte ao longo da vida...
    E ao longo da vida tenho vindo a compreender perfeitamente cada vez mais expressões como "sê tu próprio", ou "ter sorte", mas nunca senti essa do "nada acontece por acaso"... Hei-de perceber (ou seja, crescer).

    Pedro Grande, estou ciente que fui eu que criei muitas das coisas boas da minha vida, e isso é o que me incentiva a não desistir. Para mim "Tudo vale a pena". ;)
    Agnóstico por recorrer muito frequentemente a "não-sei-quem" para pensar sobre a vida. Dá-me jeito usar os conceitos de mundo, natureza, universo, ou "alguém", numa forma personificada, para reflectir mais facilmente, não sei se me compreendes...
    Mas por enquanto, ainda ateu. Hehehe

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  5. Já agora...
    "Bondosas, altruístas, sorridentes, inteligentes..."
    Será que estas quatro pessoas importantes conseguem descobrir qual o adjectivo com que mais as identifico? Arrisquem, sem medo. ;)

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