sábado, 10 de outubro de 2009

Como espalhar o pânico numa escola em meia-hora


Foi numa quarta-feira, talvez a da semana passada.

Do meu ponto de vista, tudo começou quando na aula de Formação Cívica a "Joana" teve uma visão. Ela tem esse dom estranho que ninguém comenta, de adivinhar o futuro.
- Vai haver porrada às 15:15!
Uma leve onda de entusiasmo cresceu na sala. Tudo muito discreto, sem o professor ouvir nada. Ok, eu estava a brincar, a "Joana" não tem visões, apenas recebeu uma mensagem no telemóvel...

Entretanto a aula acabou e eu saí. Fui para a biblioteca, fazer o que tinha a fazer (por muito nada que fosse, naquele dia...). Enquanto aguardava a hora de entrar no computador, fui ler o livro-fenómeno da moda (Já adivinharam qual é?), porque tem 477 páginas, porque eu sou um caracol a ler, porque queria acabá-lo antes do período acabar e porque o livro é giro. E enquanto eu lia o livro, a notícia espalhava-se.

Nisto aparece-me uma menina pequena (talvez do 5º ano), que não conheço de lado nenhum, e que me chama pelo nome:
- Tomás, sabes onde é que vai ser a porrada?
Fiz uma grande careta como se aquilo fosse o acontecimento mais desinteressante que pudesse acontecer e respondi que não, sem interesse. Mas por dentro eu fervilhava de perguntas. Primeiro, quem era aquela menina? Segundo, porque é que ela queria saber onde era a porrada? Será que queria assistir? Ou fugir? Terceiro, quem é que lhe assegurava que ia mesmo haver porrada? Senti o ambiente à minha volta a ficar um bocadinho estúpido.

Quando finalmente chegou a hora de eu ir ao computador, fui guardar o livro na mochila e, no trajecto mesa-mochila-computador ouvi uns miúdos muito preocupados. Conversavam uns com os outros como se viesse aí uma catástrofe, fazendo um ruído muito sonoro. Uma das funcionárias da biblioteca foi ter com eles, para os acalmar:
- Não quero ninguém aqui na conversa. Se querem conversar vão lá para fora.
- Não!
- Não podemos!
- Vai haver porrada!
- Os [rapazes] da Escola "XPTO" vêm aí!
- Eles trazem aquelas garrafas com [não sei quê] lá dentro!
- Ya, aquelas coisas que rebentam!
- Cocktails molotof, ou lá o que é!

Eu estava aterrado com o que ouvia - já estava mesmo a imaginar... Chegava toda a gente ao sítio da porrada e não havia lá ninguém, não acontecia lá nada e... E os miúdos na biblioteca para se abrigarem da guerra!

Fiz o que tinha a fazer no computador, depois fui para casa aproveitar a dádiva maravilhosa da única tarde livre da minha semana escolar, e pronto, não soube de mais nada acerca do espectáculo...

É impressionante...
  • como os boatos se espalham nas escolas
  • como o pessoal leva tudo a sério
  • (mesmo que não sejam boatos) como o pessoal se entretém na escola
  • como a violência faz parte das nossas vidas.

7 comentários:

  1. Munino, a malta anda completamente louca. Poucos são os que usam os neurónios, acredita.... E continuo a achar que és sábio. By the way, óptimo great texto!!!!!

    P.S. Tou num curso online de podcasting, com mais.... 600 alunos... lol

    Big hug!

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  2. Eu tou em tanto lado que me baralhei.... 6th class é dos piquenos ... tu percebes..

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  3. Ah ah! Apanhei-te! Que texto fantástico. E que bom, agora vou andar por aí a ler-te. Um beijo enorme, escritor-to-be ou mesmo escritor-already!

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  4. Sim, é mais escritor-already, ou então escritor-to-be-further-someday.

    Que fixe, vais ler my blog!
    :D

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  5. Deixai-me dizer que na minha escola até existe uma palavra especial para esses acontecimentos: FIGHT mas se vires num papelinho de passa aqui passa ali deve estar escrito faite...

    Na minha escola são ovelhas...
    -Tá a haver fight!
    -Onde?
    -Ali anda!
    -Bora ver!OU Bora "(qum estiver ao lado dessa pessoa)"
    ...
    enfim...e temos funcionários a coçar o corpo inteiro mais os não-sei-quantos-milhares-de-milhões de cabelos.

    esperemos que isto mude...

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  6. Pois, Brisa, como é que me pude esquecer de palavra tão usada...
    Faite! Viva a ignorância!

    Isso é como o "Maria Joaquina LOVE Zé Manel"... Nem escrever se sabe, hoje em dia...

    Mudar?
    Em que mundo vives, Brisa?
    Deves pensar que estás no século XXI!


    Sr.Vento

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